12 dezembro, 2013

Jejum e emagrecimento

Hoje o post é um pouco diferente, mais técnico mas muito interessante. Graças a união dos neurônios pensantes no grupo privado mais legal do FaceBook: Comendo Sem Culpa venho trazer hoje um post de uma convidada muito especial, a Daniela Mendes, estudante de medicina e que tem entre seus maiores interesses a área de Transtornos Alimentares e Auto-Imagem. Hoje ela vem explicar pra gente um pouco sobre ficar muito tempo sem comer e como seu corpo reage a isso.



Pode não parecer, mas mesmo sem fazer nada, nosso corpo está consumindo energia. Internamente, nossas células estão em constante funcionamento com o único objetivo de nos manter vivos. Nosso corpo tem várias fontes de energia – que são os carboidratos, lipídios e proteínas. Eles passam por inúmeras vias metabólicas para chegar a uma molécula chamada ATP. Essa molécula é quebrada e energia é liberada.
Nossa sociedade evoluiu para um ponto em que comida está disponível demais. Numa época que não havia tanta comida, nosso corpo precisava se manter vivo a todo o custo, e por isso, tem inúmeras maneiras de economizar energia e nutrientes, para evitar que a gente morra. E a gordura (lipídios) é justamente o mais precioso, porque fornece muita energia. 

A fonte de energia preferida da maioria dos órgãos do nosso corpo é a glicose. E a glicose é obtida principalmente de carboidratos. Nós temos glicose guardada no corpo sobre a forma de glicogênio, no fígado e nos músculos. Mas é pouco, e quando a quantidade de glicose no sangue baixa (jejum) , o fígado converte glicogênio em glicose e quase todo o uso é do cérebro. Sem energia, todos os órgãos e tecidos do seu corpo morrem. Vias metabólicas para uso de proteínas e gordura são ativadas. Essas vias produzem glicose e corpos cetonicos; os corpos cetonico, em muito excesso, são tóxicos. Essas substâncias são utilizadas como fonte de energia. Mas ao mesmo tempo que está queimando gordura, também está queimando músculo, e isso é muito perigoso para a saúde.  E claro, isso “emagrece”. Mas qual é o custo disso para seu metabolismo?

Estresse. Ninguém foi feito para passar fome. O jejum prolongado é interpretado pelo seu organismo como morte iminente, e eu acredito que isso já é o suficiente para pensar que fazer jejum não faz bem para ninguém. Seu corpo entende que a comida do mundo acabou (por qual motivo logico alguém passaria fome se tem comida disponível?), ele vai tentar economizar o máximo as reservas que ele tem, com o objetivo de se manter vivo por o mais longo tempo possível. Então ele vai diminuir o gasto enérgico, e principalmente, evitando consumir aquela substância muito importante em momentos dificuldades – a gordura. Seu metabolismo baixa, e ai que entra o efeito platô. Dietas muito restritivas é uma das principais causas de efeito platô (vou falar melhor sobre ele em outro texto, especifico).

A hipoglicemia aumenta o cortisol no sangue, também muito conhecido como “hormônio do estresse”. Em altas quantidades, que é o que acontece no jejum, esse hormônio estimula a diferenciação dos adipócitos, ou seja ele “cria” mais células armazenadoras de gordura, o que dificulta o emagrecimento.  A elevação do cortisol diminuiu a imunidade, facilitando você ficar mais doente. Ele também influencia em vias que promovem a obesidade central, ou seja, o crescimento da barriga.

Jejum prolongado e exercícios físicos intensos diminuem a concentração sanguínea de leptina; a leptina é responsável por reduzir a ingestão alimentar, e do metabolismo de carboidratos e gorduras. Os estudos sugerem que a falta de leptina aumentam a fome e diminuem o metabolismo. Tudo o que você quer evitar num emagrecimento. Seu corpo acha que está morrendo de fome, então sua fome fica maior e você vai querer comer mais. Fora o efeito “Tudo o que é Proibido é muito mais gostoso”. Baixos níveis de leptina induzem a hiperfagia (ou comer demais). Então, se você quer emagrecer e está comendo de pouco em pouco tempo, você está informado ao seu corpo que tem comida disponível, então não tem problema ele queimar energia e gordura, já que essa ingestão de comida ainda deve ser menor do que o necessário, para assim emagrecer. Mas não muito menor que o necessário, porque o efeito é o oposto do desejado.

Todos nós precisamos comer para permanecermos vivos. Jejum prolongado não é algo que faça bem ao funcionamento do metabolismo. É possível escrever livros e livros explicando o porquê, nesse texto quis focar nos pontos principais. Resumindo, seu corpo necessita de energia para permanecer vivo, e essa energia vem dos alimentos. Sem energia, nosso metabolismo coloca um aviso: morte iminente! Fazendo todo seu organismo poupar o gasto enérgico. E o que mais queremos ao emagrecer é gastar energia.

E jejum desintoxica o corpo? Eu também vou fazer um texto explicando o que é desintoxicação do corpo, mas para dar uma adiantada: nosso corpo tem o fígado, e várias outras células, enzimas, vias metabólicas prontas para desintoxicar. Tudo o que comemos passa pelo fígado, que desintoxica e excreta o que não é útil para o organismo pela urina. Alguns alimentos – principalmente os industrializados – contêm mais substâncias estranhas ao organismo, dando mais trabalho para ser desintoxicado. Uma alimentação que diminua os industrializados – alguém conhece aquela regra “Não nada que você não reconheça os ingredientes”? Leve isso para a vida, e já é um bom caminho para manter seu organismo mais desintoxicado.

Fontes:  GUYTON, A. – Trato de Fisiologia Médica. 11ª Edição.
MOLINA, P. – Fisiologia Endócrina.
ROMERO, Carla Eduarda Machado; ZANESCO, Angelina. O Papel dos Hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade. 



Escrito por: Daniela Mendes. Estudante de medicina, e sua área favorita é sobre transtornos alimentares e de auto-imagem. Depois de ler muita bobagem sobre emagrecimento e saúde, resolveu tentar levar algum conhecimento, para ajudar as pessoas encontrarem a saúde.
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